D'propósito

12 de novembro de 2013

Vamos dar um tempo

Vivo um casamento há anos, 13, sendo precisa. Mas não é um casamento comum e também não é com um homem. Não é uma relação de desejo, mas uma relação de amor que foi construída, fraternal mesmo. Para mim, que sou louca por casamentos e já fiz o pedido matrimonial para dois namorados e me pediram uma vez, que por sorte, nada foi adiante, a não ser os sorrisos soltos depois dos pedidos, refleti como existem várias formas de estar casado com alguém. 

Vivemos longos casamentos com nossos familiares, até que se saia de casa pra viver sozinho. Mas além da família que a genética e Deus dá, temos a família que escolhemos: as velhas, boas e trabalhosas amizades. E desse casamento que sofro agora.

De grandes amigos, feitos no berço da infância e adolescência tenho três. Dois homens e uma mulher. A mais longa amizade no alto dos meus vinte-e-cinco-anos foi com ela, que sempre esteve presente em praticamente todas as histórias vividas até aqui. E o que mais tivemos nesses quase 13 anos a serem completos em janeiro, foi diversão e crise. 


E eu aposto que você, do outro lado se pergunta agora, que tipo de amizade é essa que se parece um casamento? A do tipo que você estuda ginásio e colegial na mesma sala, mora no mesmo prédio e passam em média 12 horas juntas. Depois, na vida adulta, ainda trabalham uma temporada juntas, se falam todos os dias por várias horas, suas famílias viram uma só e todos já pensam que são irmãs. É assim que se faz um casamento numa amizade, além, claro, de superar todas as dificuldade de grana enquanto uma está desempregada, de estimular a sair a outra que está sem namorado, de ser capaz de se divertir mesmo vendo TV em pleno sábado à noite e também de dar espaço a vida social à parte que a outra leva.

Em quase 13 anos não teria como enumerar as vezes que brigamos, foram muitas e é o tempo todo. Mas cabe em uma mão em quantas nos separamos. Sim, porque como num casamento comum, passamos por crise de não suportar a outra e pedimos um tempo. Acho que ao longo desses anos houve três períodos que foi inevitável a separação. Um ainda na adolescência que minha memória já não consegue lembrar o por quê. Outra em 2010, na minha fase 'sexo, drogas e rockn'roll' que, confesso, eu estava insuportável. E agora. 

Numa relação que apesar do companheirismo o que mais temos feito é nos desentender e desapontar a outra, eu pedi um tempo. Cansei de brigar. Sou de libra, não aguento discussão por muito tempo e você, geniosa, não sai de uma até vencer, ainda que pelo cansaço.

Eu sinto muito por não acompanhar de perto um sonho seu e fico orgulhosa por realizar o que sempre desejou, trabalhar numa multinacional que te dê o mundo e todas as oportunidades. Desculpe mesmo, porque quando realizei o meu de trabalhar na TV Cultura, você estava ao lado da primeira ligação do RH até o dia da minha admissão e durante toda a trajetória que ainda segue. 

Eu entendo que casamentos se desgastam e renovar é tarefa difícil, até na amizade que é das relações mais duradoras que um homem costuma fazer. Mas, sobretudo, o que mais aprendi nesse período sobre casamento é de como o amor se fortalece na confiança cega sobre o nosso parceiro, vivemos descolados da insegurança e muito junto do companheirismo. Pra todos os meus casamentos é isso o que desejo e que aprendi com você. E entendo que mais uma vez esse tempo não é para sempre, é para esperar sua fase passar e para fortalecer o que nunca deixaremos de ser.

10 de outubro de 2013

Para não esquecer

Das fragilidades da vida, a minha maior sempre foi a memória. Não sou capaz de lembrar uma história por completo, recordar de pessoas, filmes, que dirá nomes. Pra isso tenho Google e melhores amigos que me relembram cada detalhe da nossa infância para que eu não me perca. E uma estagiária, é verdade, que me lembra o nome de todas as pessoas com quem trabalhamos e qualquer ator que tento recordar. Mas ela, como todo estagiário, criou asas e voou para ajudar outras cabeças. Boa sorte, axé, saravá! Deseja minha Bahia.

Escrever, aqui, sempre foi uma maneira de manter minha memória viva. Reler os arquivos do blog é como voltar no tempo, à mesma sensação de ver foto, um misto de prazer e saudade. Mas confesso, há textos produzidos que não sei se foram de fato reais ou ficção. Uma vez minha terapeuta perguntou sobre um texto antigo, de 2008, se tinha acontecido de verdade. Eu não soube responder com certeza.

As pessoas ficam irritadas, indignadas, “mas como pode você não lembrar das coisas que viveu?!”

Não sei, não lembro e isso não é D’propósito, juro. O que pode ser muito bom, porque até as coisas ruins o tempo faz o favor de apagar. E por falar em apagar, entre inúmeras tentativas de aniquilar o blog, por conta de não escrever mais com frequência, a causa de nunca ter conseguido ainda é por guardar a minha memória aqui. Mas acontece que dia desses, com essa coisa de inferno astral etc e tal, andei cabisbaixa, triste, abatida.  

Nesse momento tem a deixa para o Eulírico perguntar. 
- E quem foi que abateu?


Meu coração batido, dilacerado, feito pedacinho de novo. Um desânimo da vida.

Mas num desses encontros felizes conversei por acaso com uma amiga sobre futuro, rotina, amadurecer e como era bom ter 19 anos. E quase como um conselho ela me disse, “você era alegre e feliz, escrevendo no blog quase que diariamente porque nele você deixava tudo que sentia e seguia mais leve”.

E foi então que entendi porque eu realmente escrevia. Tinha me esquecido. Achei que era pra lembrar. Não. Era para caminhar mais leve e esbanjar a alegria que todo mundo sempre me pediu pra nunca perder. Escrever, na verdade, era minha terapia e evolução. Escrever foi o modo que criei de não esquecer como amadureci.


E mais adiante na conversa com um pouco mais de alegria comentei que tudo o que eu queria agora, quanto ao amor, era fugir de badalação, pessoas famosas, conhecidas, pseudo-notáveis, ou com uma ideia na cabeça e uma mochila nas costas. Eu só quero alguém mais perto do normal possível. Com um emprego normal, com horários normais, com uma vida normal, mas que tenha o mesmo gosto cultural que eu!
Ela gargalhou e me disse, “cara, você está velha mesmo!”


É, sinto o cheiro do renew e dos 30 daqui e como sempre, prometo, mais uma vez - se eu não esquecer-, voltar a rabiscar pra continuar desenhando a alegria cotidiana de antes e de sempre.

3 de setembro de 2013

Minha direção

"Voltando da sua casa ontem, reparei que eu tinha ficado lá"

Uns adolescentes cantavam isso ontem pela rua e pensei, é verdade! Eu não consigo ir embora de você. Toda vez que vou, eu fico. E volto. E quase sempre me perco pelas ruas todas iguais do seu bairro. Se perder é a melhor maneira de conhecer caminhos novos, viver a saudade e ter um pouco mais de tempo com você ao telefone me orientando o caminho de ida e volta pra você.

29 de maio de 2013

Desafie

Acredite nas perguntas, mas duvide sempre das respostas. A dúvida é a certeza interior.

23 de maio de 2013

Olá e olé

Aquela sensação que acontece há cada dois ou três anos, conforme a arritmia amorosa de cada coração. O frio na barriga, a ansiedade e a vontade enorme de viver e realizar todos os projetos pra tudo ser um sucesso. E tudo é! O trabalho se torna criativo, a literatura inspiradora, as músicas fazem sentido, os filmes são coincidências de nós, a poesia completa e concreta, todos os sorrisos de graça e os abraços apertados e doados. Essa sensação de estar apaixonada,  - completa e loucamente - a incerteza da vida. Estou a essa sensação sazonal que na chegada nos dá um olá e um olé!

Viver é muito bom, ser jovem é melhor ainda!

6 de maio de 2013

A chuva já passou

De canto de olho te observei hoje. Não queria que reparasse, não quero te deixar sem graça e também não quero ficar, mas, notei que seus cabelos brancos aumentaram e acho que não demora muito para ficar grisalho. Seu rosto demonstrou um cansaço que está além de uma noite mal dormida. Seu corpo me parece mais frágil, suas mãos um pouco ressecadas e ao mesmo tempo mais delicadas, seus olhos fadigados e suas rugas...! Minhas linhas preferidas do seu corpo, antes seria capaz de escrever umas 60 páginas só sobre elas. Suas rugas me pareciam tão bonitas, elas sorriam. É lindo ver uma ruga sorrir e contar histórias. Eu te lia pelas linhas que a vida escreveu em você. E gostava.
Já morou uma gargalhada minha no lugar onde suas rugas sorriram.

Agora, suas rugas não sorriem mais. Não sei por que, talvez sejam meus olhos que não veem mais encanto. Mas você ainda sorri, um pouco, quando fica sem graça e de uma piada ou outra.

Te olhei muito, reparei tanto em você, mas só hoje consegui enxergar. Não são mais as suas rugas, são as que eu criei para outros olhares.

Igual ainda continua o teu abraço confortável, gosto dele, é um abraço bom para ficar e esperar qualquer chuva de verão passar. Ficaria mais se tivesse tempo. Não tenho. A chuva já passou.


23 de abril de 2013

Conselho

Uma história só tem fim quando a gente quer,
enquanto alimentar qualquer sentimento ou ressentimento
nunca terminará.
Seguir em frente é uma decisão
Esquecer é a consequência


 de um começo feliz.

18 de abril de 2013

A palavra desculpa

Meus olhos só enchem facilmente de lágrimas com um pedido de desculpa. Quando intensa e sincera não há palavra mais reverberante do que a desculpa saída de uma boca e coração arrependidos. Se quiser me fazer chorar diga desculpa. E a escusa não precisa ser diretamente para mim, pode ser da mesa ao lado depois de uma discussão, pode vir do cinema, da literatura, do teatro ou da música. Eu me encontro num pedido de lamento. Mas quando for dizer, diga de verdade!

Quando criança me lembro de ficar de castigo por não pedir desculpa depois de machucar aos meus primos e irmão. Na adolescência continuei sofrendo com o orgulho e a dificuldade de pedir desculpas para quem, de alguma forma, eu magoava. A palavra desculpa é meu trauma. Uma criança mordida por um cachorro talvez passe o resto da vida com medo. O perdão me mordeu com uma ferida aberta. A palavra desculpa me fragilizou antes de cicatrizar, não posso vê-la sendo pronunciada que meus olhos enchem de uma esperança de escorrer.  

Agora sou sensível.

17 de abril de 2013

Me busque

Ele começou me dizendo em tom de segredo sobre sua intimidade que, pra mim, sempre foi um mistério.

- Vou te contar uma coisa, acho que não devia, mas ele ainda gosta muito de você.

Não sei se acredito num segredo que não saiu da sua boca. Minha réplica e retórica é de que seja impossível já que seguimos nossas vidas. Você tem um relacionamento e eu também. Eu amo o passado, mas caminho é pra frente. E tento. Tem tanta vida para se descobrir.

Insistente, repete, ele ainda gosta de você e não é pouco! Repete como quem vence uma aposta para eu parar de teimar. Balanço como haste fina com a brisa, mas não envergo! Bato o pé e não acredito. Teimo porque não quero acreditar, mesmo sentindo uma ponta de felicidade eu só acredito no verbo saindo da tua boca. Te testo, chego perto e você recua. Covardia sempre foi seu forte, mas eu te encorajei, você se tornou mais homem depois de mim e vai continuar me chamando de pretensiosa e no fim admitindo tudo o que digo. Mas antes vamos discutir.

Duas pessoas que se desejam não têm como não darem certo, uma hora o sofrimento vem, mas ele ainda gosta de você, diz seu amigo que não cansa de te entregar e me convencer, então, volte, diga e me mostre. Gosta quanto? Gosta como? Lembra quando eu lhe perguntei isso, escovávamos os dentes para dormir. Você disse, gosto de você, mas nunca disse quanto ou como. Meus cachos são feitos de liberdade, adoro ir, adoro o vento trazendo o novo e pra ficar eu preciso de muita segurança, senão, vou. E fui. Deixei você porque me deixou antes com sua covardia. Pratique a coragem, volte e me busque, é a chance que eu nos dou para você largar tudo e eu também.



25 de março de 2013

Nota de um moleskine

Descobri que por todas as pessoas por quem fui apaixonada, na verdade, o que eu queria é ser como eles. Eu tinha admiração e um ideal em cada pessoa. Eu queria ter a inteligência de um, o carisma e talento de outro. A vida tranqüila de todos. 

Acho que o quê eu sinto falta é do estímulo que sem querer essas pessoas causavam em mim.

14 de março de 2013

Questões

Vontade não sei do quê
Saudade não sei de quem
Perguntas não sei pra quê

Respostas, sem notícias de quando vem.

19 de fevereiro de 2013

Literapia


*“Ele te aproxima do que você foi e da melhor parte que guarda em você. Porque de alguma forma ele te faz querer as coisas que sempre quis e que por descuido esqueceu.”

-              -  Você pode ler de novo pra mim.

“Ele te aproxima do que você foi e da melhor parte que guarda em você. Porque de alguma forma ele te faz querer as coisas que sempre quis e que por descuido esqueceu.”


E me pediu mais um vez, mais uma vez, quando chegava perto da sexta ou sétima releitura me olhou, passou as mãos no cabelo e disse.

-              -  Eu podia ser cruel com você e pedir pra você reler até conseguir ver e admitir, você não percebeu ainda?


Levantei as sobrancelhas e não disse nada.


-              -  Você o ama! Tá mais do que claro que você o ama.


Seguido de uma respiração longa e um silêncio, balançando a cabeça negativamente.


-           -  E agora? O que eu faço com esse amor?

         - Garçom, por favor, você fecha a conta pra gente!




Pra isso, ninguém tem a resposta de bate pronto. O que se faz com o amor é um prazer e problema de cada um. Se achar que a vida pode ser um filme, abandone tudo e corra atrás, só não crie expectativa de final feliz, filmes acabam e amores também. Paulo Mendes Campos já proclamou que O Amor Acaba, aí então, é que a arte se inicia.



*citação das aspas do livro: Sexo, Champanhe e Tchau, Mônica Montone.