D'propósito

26 de novembro de 2012

Isso de querer bem

Um dia inteiro, uma cama toda, o silêncio de quem tem tempo e os olhos dos dois fixos pro horizonte da alma um do outro.

-  Se você quiser eu fico com você pra sempre.

Quase 40 segundos depois ainda em dúvida ele repondeu:

-  Pra sempre?

-  Pra sempre.

-  Não sei.

-  É bom correr o risco.

-  Fica comigo hoje?



Olhos e bocas sorriem, juntos.

4 de outubro de 2012

Almoço

Oi, tudo bem?

Com sorrisos e olhares fixos, é o que dizemos um ao outro ao mesmo tempo e todos os dias. 

No resto do tempo conversamos pelo olhar e pelos curtos passos que damos, e gosto que seja assim. Caminha devagar, você e nós. Temos tempo, diariamente uns 50 minutos juntos, o suficiente pra você demonstrar que contraria a ditadura da beleza e me quer natural, nega quando eu apareço de cabelo liso e maquiada. Prometi, em silêncio, te pedir em casamento de cabelo molhado, vindo toda de branco, Que Maravilha, diria Jorge Ben! E você? Diga amém! Com todo teu jeito tímido e cheio de vontade.

Oi, tudo bem? 

Outra vez, mais um desejo, outro olhar.

Já sabe o que eu gosto de comer e não se importa que seja muito, sorri um pouco mais diante da minha fome e se oferece. Então, aumenta o meu desejo, mas não me farto, não ainda. Gosto dos começos, eles são tão rápidos. E pra te responder:

Tudo bem, tudo melhor agora.

18 de setembro de 2012

Arrepender-se II

Dias e dias sem escrever, culpa daquela tristeza que pega a gente na esquina de uma segunda-feira sem destino e enche o coração apaixonado de arrependimento. Virou a rua, perdi de vista, ainda bem. Passou. E passei dias repensando sobre o arrependimento, que no momento de fúria com o sentimento despejei rápido a um post abaixo. Que zombeteiro somos com nós mesmos e como o tempo é mesmo sabedoria, é o terapeuta popular, de graça, honesto e verdadeiro, te enche de perguntas e permite que você mesmo enxergue as respostas. 

O divã são as ruas, calçadas, esquinas, shows e cinemas. É a literatura, a história de outro diante do nosso olhar.

No meu modo de fazer terapia, além de ler a respeito, é pensar, pensar e pensar. Caminhando, ao volante, com os olhos perdidos na multidão analisei sobre o que sentia a respeito do arrependimento. Quantas vezes desisti por medo? Quantas dores uma decisão me causou? Quantas alegrias há numa vida de impulsos? Quantas histórias eu tive para contar? Quantas vezes eu ri na cara do perigo? Quantas vezes eu me superei? Quantas vezes eu fracassei? E quando foi que eu me arrependi?

Revisitei o passado e respondi pergunta a pergunta. Seria um absurdo dizer que nunca me arrependi. Claro que eu já me lamentei algumas boas e várias vezes e já quis mudar de idéia. E nem acredito em quem diz que nunca se arrepende. Mas comigo o arrependimento sempre foi temporário, porque na verdade era o sentimento de negação ao fato, somado a raiva de uma situação ou alguém. E está errado! Essa é só uma reação (natural?) de enfrentar meus fracassos afetivos. E isso não é arrepender-se, não por completo.

O arrependimento é o único sentimento que comprova o equivoco nosso, só nosso. O arrependimento é pessoal e intransferível, não existe culpado senão o eu. E quando se tem mágoa, irritação, fúria ou ódio de alguém não pode se lamentar por ter vivido determinada história. Afinal, enquanto a experiência parecia boa não surgiram dúvidas de seguir adiante e tentar um pouco mais.

Podemos nos arrepender por uma atitude nossa, - quando normalmente voltamos atrás e pedimos desculpa -, mas não por ter vivido uma experiência que não deu certo por uma reação oposta ao que podemos controlar.

E depois de dias refletindo, foi num trânsito de mais de uma hora na Radial, numa sexta-feira de calor que eu entendi que toda escolha é sempre a escolha certa, o arrependimento é só uma lição e uma oportunidade de melhorarmos. 



5 de setembro de 2012

Dois sorrisos.

Um achado perdido em uma bolsa qualquer, pelo estimado Moraes, meu poetinha do subúrbio, dentre os meus Moraes preferidos, que sempre soube me arrancar sorrisos.

Sorriso em voz

Por perto do meu redor
Sinto a presença auspiciosa e perene
De jeito puro, num silêncio entrecortado em voz
Vejo a aparição discreta da beleza tênue
Vem-me
Faz-me teu, de filho pródigo e amor solene

Porque de mulher exata
És antítese e prova
Com erros e palpites apenas me maltrata,
Quando bota aquele decote de blusinha roxa, ou o blush nas bochechas cor-de-rosa.
E depois o salto
Alto
e o dengo e charme na prosa

Ser a ti atento
Ver-te num instante de calma e a fúria a exaltar-te nas têmporas
Ver-te bufando feito o mais forte dos ventos,
E acalmar-te num abraço que cheira amêndoas

Pois adoro ver você, mulher
De ver como dos homens em nada depende, pelo contrário, és farta
Ao passo de até (imagine!) se vier
De encontro a ti, no banheiro uma barata,
Não pestanejas, mata.

Pára e me diz:
"ó de Moraes, vai à frente que eu tô a esperar na esquina"
Ora! Que gesto infeliz!
Não vês que não passas de menina?
Infâmia.
Deixe estar que eu hei de ter fama
E você em casa, na minha cama

Seja franca:
"Por que achas que de mim tem tudo?"
"Não bobinha, não são teus seios e não são as tuas ancas"
Que absurdo!
Na tua frente, sob os teus olhos, me sinto como se fosse nu
Gosto de ti porque é estranho garota.
Gosto tanto do seu All-Star, o branco e o azul

Mas que bela senhorita
Se fosses ao meu tempo, este vestidinho em que rebola as ancas
Era de chita
Esses homens são umas antas
Pensar que de fato são gigantes, que pelo tamanho espanta
Desarmaram-se num mal-me-quer
Feito criança com o copo de Fanta
Uva. Porque laranja minha mãe diz que faz mal à garganta
Acham que podem com o sorriso dela que encanta
Sorriso que vale mil palavras ou gestos. Sorriso de mil tons, ele canta.

26 de agosto de 2012

Arrepender-se

2. Mudar de intenção ou de ideia.
3. Desdizer-se.
4. Mudar de aspecto, ameaçando chuva

Se eu escrevesse um texto hoje só haveria xingaremos e palavrões, uma maneira de escorrer o arrependimento de uma história.
O arrependimento é feito cidade grande, uma hora acontece pra todo mundo.

10 de agosto de 2012

Vida

É fácil criar, imaginar sobre o que deveria ser. Difícil é acontecer sobre o que é.

17 de julho de 2012

2 de maio de 2012

Metade de uma paixão



Vai, Camila! Vai se apaixonar na vida!

Foi o que me disse os mesmo anjos tortos que fez do seu Drummond o homem gauche que a gente já conhece da poesia.
E eu, da linha direta de Xangô reconheço que ordem vinda do cartório do céu a gente assina e amém! Até porque sofrer por amor é coisa pra quem tem muito gosto pra se perder em um único amor. E, claro, para quem não tem os olhos atentos e um sorriso pronto para se despertar.

Vai, Camila! Vai se apaixonar na vida!

Sim, me apaixono e desapaixono na velocidade da bateria de um iPhone. Até Steve Jobs entra na dança, enquanto eu me esforço para não deixar descarregar a bateria do amor e do iPhone também.


Minha mãe fala, isso é sassaricagem!

É não, mãe. Aliás, é também. Mas é com muita paixão. E boto fé em qualquer começo de relação, vou fundo, mergulho no oceano de incerteza e ainda que por rápidos meses, me encharco de felicidade. Mando bilhetinho, faço surpresa, escrevo carta, posto no blog, faço rir e até me arrisco na cozinha, se muito necessário.

Aí me perguntam: mas e depois? E quando acaba, mergulha no sofrimento também?

Sim, também! É justo sofrer um tiquinho por amor, seria desumano se não. Mas coisinha de duas semanas. Isso falando de sofrimento mesmo, aquele que você chora e não para de pensar. Duas semanas e chega. Três a quatro se encontrar todo dia. Mas evite.

E é por gostar tanto do sentimento do começo que eu não canso em admirar uma boa ideia, um bonito sorriso, um olhar seguro e mãos masculinas bem desenhadas, do jeito que gosto.

Mas também sou capaz de me apaixonar pela metade de uma pessoa. Foi assim, neste último feriado. Com abertura da exposição "É o que não pode ser que não é", da Barbara Gomes, uma fotógrafa que é uma fofa além de muito talentosa. Ela faz a brincadeira de colagens de revista + Instagram. Na hora e super original. Acordei pensando que deveria ir, não consegui. Ela registou o que os meus olhos teriam se encantado, sem sombra de dúvida e como aconteceu, pela foto.



Vi um moço, uma parte dele e pensei que entregaria meus próximos dias para aqueles olhos e os poucos fios brancos que devem lhe deixar grisalho em poucos anos.

Admirei sua metade querendo completá-lo com a outra. Sussurraria no seu ouvido como a modelo na revista. Consigo imaginar suas mãos pelo quase sorriso e olhar que fala. Mãos grandes, unhas e dedos largos. É músico, jornalista, professor, publicitário, engenheiro? Prefiro que não seja nenhuma dessas. Adoraria experimentar o que ainda não tive. Solteiro, casado, canalha, romântico? Não sendo casado, já valeria a aventura.

Não sei o que você faz, não sei o seu nome, não sei um terço de você, mas gostei da metade que vi.

E se apaixonar não for isso, imaginar, desejar, querer o que um dia foi impossível, então qual é a graça?

Vim, Camila!Vim sassariqueira e vim pra me apaixonar! Feito meu poetinha Vinicius, que aniversaria no mesmo 19 de outubro que eu, e se vivo, este ano faria 100 anos. Vem festa por aí!

Agora, se você, leitor de bons olhos, conhecer essa metade diga a ele que eu o procuro!



E se quiser conhecer mais o trabalho da Barbara Gomes, que apresentou a exposição "É o que não pode ser que não é", na Urban Art e fez esse clique, dá um pulo no blog dela


16 de abril de 2012

Caixa de entrada

Somente um domingo preguiçoso pode nos fazer faxineiros da nossa vida. Quando a TV já não te prende com mais nada, a coragem para sair ficou na cama e seu email grita com 900 correspondências na caixa de entrada. Foi assim neste fim de semana, estava fazendo uma limpeza no meu computador e email e encontrei uma porção de mensagens suas. Para fazer esse tipo de limpeza tem que estar preparado para se desapegar do passado, senão só demora mais no objetivo final: deixar a caixa de entrada livre.

Inevitavelmente li todos os seus emails, sorri para maioria deles com uma saudade saudável e no fim quando não tinha mais correspondências suas eu me perguntei:

Por que foi que nós não demos certo mesmo?

Não faz muito tempo que terminamos para que eu pudesse me esquecer, mas sempre me questiono com essa pergunta ao fim de todos os relacionamentos que tive. A pergunta é análise, reflexão e conclusão para a decisão de acabar com todos os emails e mandar para a lixeira.

Se você tivesse me mandado cartas ou bilhetinhos, eu jamais pensaria em jogá-los fora. Acredite. Estaria guardado na velha caixa verde, junto com os outros bilhetes e cartas, que, por exemplo, meu primeiro namorado me encheu.

Mas o email me põe a pensar e a sentir a necessidade de deixar espaço livre e o caminho também.

Por que foi que não demos certo ?

Pergunta errada! Diz meu Eu lírico.

Nós damos certo, nós damos muito certo. Tínhamos química, tínhamos assunto, interesses, ríamos juntos, trocávamos experiência, mesmo com a exorbitante diferença de 35 anos. Depois que terminamos você disse que aprendeu muito comigo. Nunca assumi isso porque pra mim parecia claro, mas também aprendi muito com você e mesmo com a ausência ainda aprendo.

E se tem interesse em saber, minha grande lição é chegar aos 50 e poucos com a coragem e paixão de agora, dos 23, que você não tem mais. Eu sei, eu sei, vai dizer que a vida vai me desgastar e vou entender que não é simples assim.
Mas eu posso tentar e arriscar a ser uma senhora apaixonada, e que não tem medo do que a vida oferece. Eu vou tentar.


Minha real vontade, agora, era ser uma mosca entre uma conversa sua com seus melhores amigos para entender, mesmo e de verdade, porque não continuamos a dar certo. Queria saber o que pensa de mim, queria saber se ainda pensa em mim.

Sobre o nosso fim eu faço suposições baseado na observação, nas suas atitudes e, claro, na razão humana.

A pergunta certa seria: por que não continuamos a dar certo?!


A resposta mais óbvia para minha pergunta é que você não foi apaixonado por mim, não gostou, talvez tenha sido somente sexo, apesar das afinidades. Outra suposição e justificativa seguida do primeiro motivo é que você é uma pessoa que se acostumou com a liberdade, que gosta de ser sozinho, prefere não se apegar e quando as situações começam a tomar proporções maiores, então, é hora de recuar. Você seria o chamado solteiro convicto, mas acho que seria raso classificá-lo assim.


Um dia você – que ainda não havia visto Shame - me questionou sobre o filme, se eu o achava que era tão vago de sentimentos como o personagem, antes mesmo que eu respondesse você completou. "Não, né, eu tive filhos, fui casado".

É claro que eu responderia não, não apenas pelo fato de ter filhos e de já ter sido casado. Mas, apesar de evitar o envolvimento, você se envolve, é inevitável e também não é um viciado em sexo. Porém você se acovarda diante de determinados sentimentos e prefere seguir em frente e sozinho, tentando não magoar você, eu, ou qualquer outra mulher com quem já se envolveu que eu soube por raso.


Quando as pessoas me perguntam por que acabou, sou direta. Tudo que um dia começa, um dia termina. ponto.

Ninguém acredita que um homem na sua idade seria louco de dispensar uma Lolita, como eu, que não é o símbolo de beleza, mas tem lá seu charme e seus atributos.

Já me disseram, aliás, que um homem como você abrir mão de mim é uma demonstração de amor, por me deixar viver o que está no meu tempo.

Como pode ver há inúmeras hipóteses sobre o porquê não continuamos a dar certo. Talvez eu nunca saiba o real motivo, vindo de você. Mas achei importante limpar a caixa de email.

17 de março de 2012

Nota.

Eu mal sabia como a ravia, a magoa e, no fundo, o desejo de vingança foram as melhores coisas que me aconteceram. Esses foram os sentidos que me levaram a você, mas eu fiquei por você. O desejo e os sentidos nos sucumbem num dia pra nos despertar na manhã seguinte e ter a certeza ao lado. Tô amando.

9 de fevereiro de 2012

Game over

A clássica frase de fim de jogo: game over. Com trilha de recomeço e hora de deixar o controle de lado, porque jogar cansa e perder também. Foi assim na infância, joguei muito videogame com meu irmão. Peguei o final do sucesso do Atari e o auge do Sonic, Mario Brós e Nintendo 64, a incrível década de 90. Mas nunca tive muito talento para os jogos, conseguia até a segunda ou terceira fase, me faltava paciência e dedicação para atravessar as fases, sempre precisei da ajuda do irmão mais velho que apesar da dificuldade, não hesitava na dedicação de horas e nas diversas tentativas que o fez concluir e ganhar parte dos jogos que tínhamos.

O mais difícil foi Sonic, ainda lembro, e também o mais emocionante. Foi uma tarde inteira e começo de noite tentando vencer o Dr. Robotnik, que tentava conquistar o mundo transformando os animais em robôs. Enquanto meu irmão passava bravamente cada fase, eu e meus primos ficávamos ao lado torcendo, vivendo aquele jogo e esperando a vitória. Quando se perdia uma das vidas do personagem do jogo ficávamos tensos, com medo que a vida do Sonic acabasse e o jogo também, claro. Era o medo de perder toda a tarde por um erro ou uma falha qualquer.

Hoje, longe dos vídeo games e bem mais perto da vida real, notei que a vida é um jogo de videogame. Temos níveis e fases a avançar. É preciso muita persistência para passar cada fase, e enquanto não estamos preparados de fato para vencer o obstáculo, voltamos, recomeçamos, iniciamos, tudo de novo, como um ciclo, um ano letivo ou o vira-lata que corre atrás do rabo pra matar a pulga.

Até que sejamos auspiciosos suficientes para notar a falha e superá-la, erramos, e eu fujo do ditado e regra de que persistir no erro seja burrice, tampouco perda de tempo. O erro, ainda que repetido, nunca será como o primeiro, as lições e as esquivas futuras serão diferentes. Nem todo mundo aprende de primeira, e nem todo erro ensina por definitivo. Cada erro tem seu tempo de aprendizado e sua consequência, claro. Superar uma falha tem mais a ver com persistência do que com tempo. Recomeçar um jogo é ter vontade de vencer, persistir na vida, também.

A cada game over que a vida oferece é uma oportunidade de se tornar melhor, como meu irmão, que depois de ver muito game over na tela, venceu! Aliás, vencemos. Meus primos e eu comemoramos com uma alegria de gritar e vibrar como quando o time vence o campeonato. E até para se vencer um jogo de videogame é preciso torcida e apoio.

Game over é o nosso teste de paciência e persistência.