D'propósito

12 de junho de 2011

O que é o amor?

Para viver há de se ter talento e olhos bem atentos. A sabedoria, às vezes, pode vir do espírito ágil e inexperiente de uma jovem de 13 anos. Olhos, ouvidos e coração atentos. Para viver há de se ter talento. Foi o que aprendi hoje com Tayná, quando a garota explicava o que significava o amor para ela. Confesso, debochei no início. Sorri pretensiosamente como quem já viveu um pouquinho mais e sabe que o amor não é novela e a vida não é cinema, apesar da gente viver mudando o roteiro. Mas Tayná me surpreendeu ao dizer confiante e com toda a certeza que as pessoas não sabem o que é o amor, ou não sabem o descrever. E eu, quase na casa dos 23, com boas e doces ilusões vividas desafiei Tayná, mas eu não precisei fazer a retórica presunçosa de “então, o que é o amor?”. Enquanto eu lia suas palavras, ela me lia nas intenções e disse atropelando o meu pensamento, “o que é o amor?”

E respondeu como quem conhece a causa e seus efeitos.

“O amor, pra mim, tem nome, tem cheiro, tem voz, tem olhar. É o que cuida de mim e me deixa bem. É o frio na barriga por atender ao telefone e saber que é ele do outro lado da linha. É aquele sorriso bobo por ouvir sua voz e entender o que diz, até mesmo no silêncio. É a bobeira, o beijo na testa e a amizade acima de tudo. É o entender, aceitar e lutar.
Você vai saber realmente o que é o amor quando lhe perguntarem sobre ele e não pensar em uma definição, mas sim em um nome, em uma pessoa.”

Tayná, aos 13 anos, definiu o que é o amor. Sorri, concordei e senti um conforto naquela explicação. E ainda achando a jovem que mal conheço incrível pelo talento, respondi, pra mim, aqui dentro. Sempre chamei isso de paixão, mas que paixão não é o amor da vida toda? Pra viver, de fato, há de se ter talento.


O que é Amar, d
e Johnny Alf, por ele e Sandra de Sá.

8 de junho de 2011

Sala de estar


Eu não iria para o quarto, tem algo na sua casa que me deixa parada em sua sala de estar. Atravessar outro cômodo é ficar íntima de você, e vai ver eu tenha medo da sua intimidade, da sua falta de organização com os livros e com os tênis fora do armário. Passo pelo corredor e não quero olhar para o lado enquanto não chego ao banheiro, porque eu tenho fixação pela sua sala. Volto e fico nela. Fiquei pensando se são seus discos, esses sim, todos organizados e tantos inéditos para mim. Ou seria ainda a guitarra e o violão, no canto esquerdo, sempre afinados e prontos para serem decorativos ao meu ouvido. E o som, o mesmo que tinha minha avó. Não sei qual parte de sua sala me apaixona mais. Talvez fosse sua varanda, que me põe o amor à vista e não me faz acreditar em tardes de outono mais bonitas do que essas. Mas é do seu sofá que aprecio tudo isso. Eu gosto de ficar nele, deitar, desejar, contemplar a paisagem, tomar vinho, cerveja e até fumaria um baseado se eu fumasse. Sua sala é cenário pra qualquer história minha que eu venha escrever. Eu deito no seu sofá e quase o abraço, encosto o nariz e entendo, é o cheiro do seu sofá! É o teu cheiro.

O seu sofá é minha sala de estar em você. É de você que eu não quero sair, é do teu sofá desbotado que eu quero começar.