D'propósito

27 de junho de 2010

Cheiro das manhãs

Não deixe de fazer porque estou olhando! Eu gosto de admirar. Gosto de apreciar os modos masculinos, são sempre mais cuidadosos, demorados e mais alegres. Acho interessante como passa a manteiga no pão com a mão esquerda e em seguida coloca o queijo. Há arte e atenção na construção do lanche matinal. Faz o seu e o meu como Niemayer desenha. Deve ser porque é canhoto e todo canhoto me parece mais atencioso. Gosto da sua concentração, mesmo quando não concentra em mim. Eu termino a maior das histórias e você diz, “oi?” e pede desculpa porque estava vendo os elementos e ingredientes da pasta de amendoim. Eu não repito a história, fico com preguiça, mas corro pro seu colo do outro lado da mesa a seu pedido e por minha vontade.

Gosto das suas explicações sobre a música e suas teorias sobre os cardumes, mas peço um delicado silêncio com um beijo sonolento toda vez que meu despertador nos acorda com Otis Redding e você prossegue com seu talento de professor em dizer o porquê da melodia. Eu só quero ficar um pouco mais na melodia da nossa respiração harmônica. Depois disso, eu venero seu respeito pelo silêncio. O meu, o seu e o da caixa de som.

Há em você um João Gilberto mais sorridente. Não se importa que eu cante enquanto trabalha, pede bis com suave beijo em minha nuca, que se arrepia enquanto lavo a louça, mas eu só paro de lavar para ver você se lavando. Eu gosto do seu desenho no Box, gosto da rapidez com que passa o xampu e conversa comigo ao notar minha presença. Gosto do cheiro infantil que exala na saída do banho e como homem sai com a vergonha, sem vergonha nenhuma. Faz a barba nú. Completamente nú. Não teme o frio, não teme a mim e para mim é a melhor parte: quando faz a barba. Eu disfarço andando de um quarto a outro até parar atrás de você. Eu não resisto. Um homem quando faz a barba mostra em si o que guarda ser.

Apesar de amar sua barba mal feita, me arrepia vendo fazê-lo. Fazer a barba é despir a vergonha da cara.
Não para! Não fala comigo! Concentra! Não erre, não se corte, eu posso sentir a dor. Eu te observo pra cuidar, pra te ter em todos os detalhes e ter a certeza que você não é só um rabisco meu. Não é mais um personagem que inventei. É o personagem que eu desejei e que atua inteiramente para mim.
Como eu tenho certeza ? Eu não tenho certeza. A única certeza é o fim e eu ainda estou vivendo o começo - do dia de hoje.

Mas acredito quando olha no meu olho e me pergunta afirmando se sou sua. Só sua. Então, eu também acredito que você pode ser só meu.

15 de junho de 2010

Vida à la carte


Os leitores das antigas e os amigos mais próximos sabem do meu afeto por gordinhos. Sempre considerei a classe, gostava de me relacionar com eles. A massa em excesso nunca foi um problema para mim, eu até me atraía pela gordurinha. Quando não questão de gosto, de oportunidade mesmo. Já falei sobre eles aqui, aqui e aqui, sem contar todas as citações por aí. Nesses quase três anos de blog eles ocuparam muito espaço no D’propósito. Mas ficou apertado e gordinhos não cabem mais; então mudei o estilo de vida e diria que estou, digamos, mais saudável. Troquei o gosto pela carne gorda por uma bem passada e magra. Mas claro que não foi uma mudança planejada eu conheci o prato e não é que gostei! Agora sou admiradora dos magros, até olho para eles na rua. Antes esses corpos de pouca carne nem tinham chance comigo, o fato é que como diria @tullavelho eu deixei o serviço sefl-service e passei a ser à la carte.

E bem, os gordinhos têm o seu charme, fato. Mas tem também suas limitações, que até agora não encontrei nenhuma com o esbelto que me acompanha.
Então eu percebo que não é só uma questão de genética, é a alimentação mesmo. Antes, quando saía com o moço acima do peso o prato era sempre algo gorduroso e bem engordativo, e eu que não tenho problema com gordura (amém) me esbaldava também. Mas a vida com o magro é diferente, até na madrugada.
Um belo dia, depois do show dele fomos comer e o rapaz pediu um sanduba vegetariano, que dividimos. Olha que vida saudável ! E isso vem desde o café da manhã, com integral e queijo branco.


O fato é que além de uma vida mais magra, agora eu levo uma mais saudável também. Inevitável e ainda bem, porque eu estou justamente na fase a caminho dos 25, qual a mulher se cuida e mantém ou fica a um passo de virar uma baranga.
Mas gordinhos, eu serei sempre uma defensora do carisma e graça de vocês, entretanto, a vida é sempre uma temporada. Pratos, carnes e histórias novas precisam ser escritas. Eu os defendo, mas vira e mexe surge o comentário, principalmente de familiares:

- Pelo menos esse é magro, finalmente.


É, finalmente eu consegui ver a delícia dos esbeltos.

12 de junho de 2010

O negócio é amar

O título não é meu, é de Dolores Duran, que tenho por mim como uma das maiores compositoras da música popular brasileira. Interpretes a gente tem um monte por aí, como ela também foi. Mas a compositora acabou se sobrepondo a cantora, ainda que divina nas duas funções. E escrever, compor, do jeito que ela sempre fez exige sapiência, conhecimento de causa.

O título e o dia são coincidências de uma letra magnífica que cabe para quem, no fundo, só deseja amar, estar apaixonado, envolvido emocionalmente.

Não há nenhuma versão dessa música com a voz de Dolores, porque só foi gravada anos após sua morte. A letra da canção foi encontrada no início da década de 80 pela amiga e cantora Marisa Gata Mansa. Na página além da letra tinha o nome, endereço e telefone do Carlinhos Lyra. O músico e produtor Hermínio Bello de Carvalho quando soube entrou em contato com Carlinhos, que não sabia da existência daquela letra, mas que em 40 minutos após a ligação fez a música, e então nasceu a parceria entre Carlinhos e Dolores, com apadrinhamento de Hermínio e Marisa.
E toda essa explicação só pra dizer que muitas versões foram gravadas com essa música mas, com a licença da pretensão, eu presenciei, sem dúvida alguma, a melhor versão desta canção. Presenciei e registrei, porque acho que seria muito pouco ou egoísmo da minha parte se eu deixasse gravado apenas pela minha retina e mente.

A letra, assim como foi escrita, é interpretada com sentimento, verdade e por quem entende quando o assunto é música. E isso é o que mais difere a música de ontem e a de hoje. Antes a música era feito com a alma, hoje é feita com o corpo.

Mas tudo isso não interessa, porque o negócio mesmo é amar !

Play.

9 de junho de 2010

Sutil conquista

Está na natureza: o macho é o caçador ! Mas numa natureza moderna, com homens se depilando e mulheres consertando chuveiro e matando barata a ordem se mistura, caça e caçador se confundem e a regra...bem, não existe mais regra.


Tenho três amigas que estão no momento “como vou cantar o cara?” Eu não sou a miss conquistadora, mas é fato: apesar da mulher vestir a fantasia de presa, ela não é presa nunca. É predadora. Um homem pensa que é caçador, a mulher faz de conta e deixa ele acreditar que sim. No fundo são as moças que escolhem, mas não chegam no título de caçadoras, são conquistadoras.


Mulheres são sutis, não saem caçando a carne. Saem conquistando corpos e idéias. Algumas fazem isso sem nem perceber, outras precisam pegar no tranco e algumas ainda têm a dificuldade de acreditar que a mulher pode cantar o bonitinho da esquina.


Demonstrar-se interessada, não te faz menos interessante. Tudo é uma questão de postura, de olhar, de conversa e até de sorrisos. A linha entre caçadora e conquistadora está como ser sensual e vulgar. A diferença é grande, mas tem gente que confunde.


Quando se conquista, você é sensual. Diz, mas não revela. Mostra, mas não se mostra. Fala, e deixa a dúvida. Não precisa vulgarizar querendo mostrar peito, bunda e risadas escandalosas para parecer engraçada. É claro que tudo é uma questão de estilo e objetivo.


Não é anormal a mulher sair à frente, dar o primeiro passo é permitir que o outro alguém dê os demais. Todo mundo gosta de conquistar e ser conquistado. Nada com pressa e às claras. Devagar, segurando a ansiedade e chegando na ponta dos pés a presa.


O jogo da conquista é, em muitas vezes, a melhor parte. A curiosidade e a expectativa são o que nos move pra frente e o que tem movimentado as conversas com minhas amigas. Entre elas está Gabrielle, do Engabizando. Uma conquistadora iniciante que diz que eu devia escrever um manual de conquista. Se eu fizer isso não fico com homem nenhum mais, acho. Eles vão fugir de mim, ou ficarem muito meus amigos.

E tudo é só experiência na observação humana. Mas eu como minhas amigas passei pela mesma dúvida de como chegar no rapaz e bem, quanto a mim, tudo o que eu fiz foi dizer antes dele:


- Oi, meu nome é Camila.


E a história começa aí...