D'propósito

25 de agosto de 2009

Sem querer

A gente escorrega e cai sem querer - eu nunca vi ninguém provocar o próprio tombo pro riso do outro. A não ser o palhaço, que faz isso pra causar o riso e não tem graça nenhuma. A gente também esquece a chave sem querer ou esquece de deixar a chave e alguém fica pra fora. A gente, na maioria das vezes, esbarra e machuca o outro sem querer. A gente se encontra sem querer e se apaixona sem querer. A gente fala sem querer, gasta sem querer e perde a hora sem querer. A gente sem querer, arruma um propósito pra querer. Eu quis e fiz. E, agora, só há uma coisa que não é sem querer....



e quando te perguntarem se você fez de propósito, agora, tem a resposta. E guarde-a na ponta da língua ;c)



Tá chegando, D'propositados. A festa é sexta-feira, com show de Roberta Campos e Seis Sextos. Apareçam !

17 de agosto de 2009

Auto-estrada


Estela sabia que os passos estavam errados e o caminho era incerto. Mas na estrada pouco pavimentada que já caminhara ela conhecia as pedras e os buracos. Já havia estourado os pneus e se machucado tentando trocá-los. Desistiu da maior invenção do homem. Deixou as rodas largadas no meio da estrada e o carro parado com os vidros abertos e as portas destravadas.

Continuou, caminhou, pediu carona, se perdeu e acabou no mesmo lugar. Ao invés de seguir em frente Estela andou em círculo, feito a roda que largara no meio do caminho. Mas agora os pneus não estavam mais jogados na estrada, estavam devidamente colocados no automóvel que a esperava para guiá-lo. Tudo estava lá, do mesmo jeito; o toca fitas, o mapa, o macaco, o violão e sua cruel desilusão.

A nostalgia foi aparente, sentou-se no banco do motorista, encostou a cabeça no volante e pensou durante horas na música que o rádio reservava entre Noel, Cartola e Geraldo Pereira. Quando o silêncio dominou, ela levantou a cabeça e ligou o motor, que roncava alto feito a cuíca no samba. A gasolina estava pelo fim e os pára-brisas quebrados. Por um minuto pensou em desistir e voltar atrás, pegar o caminho de retorno. Mas Estela não quis ser fraca e voltar sem boas histórias para contar. Decidiu prosseguir, mesmo sabendo que podia se machucar e sofrer de novo as mesmas moléstias do difícil caminho.

Ela sentia o frio do arrependimento chegando a qualquer momento, como o vento que desgrenhava seus cabelos, no entanto, Estela achava que seguir em frente era a melhor escolha. Porque a estrada era a escola que ela precisava aprender a ser. Ser livre e só de viver, ainda que com o risco do pesar de tudo o que viria depois. Porque fora isso, ou além disso, haveria no mínimo histórias a serem contadas. E Era isso que Estela buscava: histórias e nada mais.

14 de agosto de 2009

Inconfesso desejo

Não compreendo a fundo a filosofia, mas no raso eu até me arrisco. Gosto da resposta pronta que algum filósofo fez o favor de pensar e responder pra mim, que penso, penso e não sou filósofa.
E nessa presunção de-quase-entendo é que descubro entre possibilidades e verdades nas teorias de Freud e Schopenhauer, a razão e a vontade originada em mim, nos meus personagens, nos meus anseios mal resolvidos e da consciência limitada, claro. Mas isso não vai virar papo de filósofo, a introdução é só pra esclarecer uma coisa clara: os (meus) sonhos.

Naturalmente alguns sonhos não têm lógica nenhuma, e exige um estudo além do que tenho vontade de pensar/estudar agora. Mas quero falar do quase devaneio que rondam repetidas noites de sono.

É praticamente um desabafo, nada como Sophie Calle, mas de alguém, como uma apaixonada, que luta pra ter o mínimo de orgulho e se automedica de vergonha na cara e amor-próprio pra não ter qualquer tipo de recaída, a não ser que você caia primeiro. Caia na minha armação de não estar nem aí pro seu silêncio, caia sobre o meu sumiço, ou finalmente caia sobre mim. Por que esse meu papel de “eu nunca te amei, idiota” como cantou Ana Carolina em mais uma de suas canções populares, não serve pra eu cantar no meu karaokê, nem no chuveiro. E o fato de eu te ver e não poder falar com você é sempre um soco no estomago que sobe até jugular (eu esperei anos pra poder usar essa palavra, que aprendi quando criança vendo rei leão) e fica guardada a vontade de pelo menos dar aquele abraço demorado de quase-amigos ou o seu sorriso zombando de qualquer atitude ridícula minha.


E é por isso, por guardar tanta vontade que sonho repetidas noites com você e ao abrir os olhos e levantar para o dia a primeira coisa que me vem a cabeça é você, porque mesmo sem querer eu passei a noite toda com a sua imagem e presença que são tantas. E se eu faço força e não entendo a minha resistência, ou a sua, Freud explica o sonho enquanto matéria-prima e produção humana do cérebro como nada mais do que a atividade do nosso inconsciente. Ou seja, sonhar com você é a forma do meu inconsciente satisfazer sua ausência, que você quando perto, bem perto de mim, revelava a mim a vontade da vida humana de oscilar entre a ânsia de ter e o tédio de possuir, como Schopenhauer explica em teorias bem mais extensas.
E no meu (in)confesso desejo eu despejo palavras e no meu inconsciente eu realizo vontades. Se é que se pode chamar de realização. E me esforço pra por em prática a hábil lição de que calar é estratégico, já que escrevendo é um alivio inevitável.

E é assim, quando te quero não consigo ter, quando não quero, não consigo esquecer.

10 de agosto de 2009

Mote

o acaso faz parte do destino que você reservou pra mim
e isso é tudo, ou quase
pra que eu compreenda
que tudo tem
um
fim.


.e um outro começo.

9 de agosto de 2009

A coisa da paternidade

Filho da mãe todo mundo é, ser filho do pai que é o problema. Na verdade é quase um enigma. Certamente pai e mãe todo mundo tem, afinal, somos o projeto da relação entre os seres que às vezes nos fazem sem querer, outras vezes desejam muito e algumas situações há uma confusão de pais. Mães enlouquecidas com a diversidade de homens que disponibilizam-se a maternidade e prende um a paternidade.

Dependendo da escolha ou, de repente, de ter sido escolhido pela mulher, no caso a mãe, o pai leva título de pai. Às vezes de fato não o é, ou pelo menos não foi ele quem o fez. Mas como o povo canta por aí, "Pai é mesmo quem cria.”
E cria mesmo. Recria, põe cria, faz cria e não pia. Assovia. Pai de sangue, pai de criação, pai de consideração, pai ao quadrado, pai entoado, pai valentão, pai amedrontado, pai engraçado, pai, pai, pai pra sempre um homão.

Diferente de mãe que é tudo igual e só muda de endereço, pai é tudo diferente, ainda que resida na mesma morada. Sem as declarações cotidianas de que mãe é uma só; pai também é um só, é único. Desde quando o chama de pai.

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-Paii....
-Quê?
-Vamos jogar bola?
-Camila, você é menina.
-Eu sei, vamos jogar?
-Então, pra aquecer vamos jogar uma partida de vídeo-game?
-Eita pai, depois reclama que está gordinho. Mas eu fico com o controle 1.





Oficialmente hoje é o aniversário do D'propósito, essa cria sem pai. O ano passado, nesta mesma data, escrevi aqui tudo sobre o meu rebento, lhe dando os parabéns pela existência e contando os detalhes do dia em que eu o pari. Hoje o D'propósito faz vida, dois anos respirando cotidiano e inspirando palavra, poesia, ficção e casos do dia a dia. E mais do que o aniversário de hoje, essa é a postagem número 300 deste blog que adora festejar, e como já anunciei, a comemoração será dia 28/08 como mostra o convite ao lado, ou também, em posts abaixo.
Então, até lá.

Axé, saravá, sorrisos largos e amem.

8 de agosto de 2009

Amor barata.

É barata mesmo, não é barato não. Descobri dias atrás sobre o amor que você pisa, pisa, pisa tanto, que sai meleca
.
.
.
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Eca.

ps. O aniversário do D'propósito está chegando, a festa é dia 28 deste mesmíssimo mês. Então, não vai perder !

6 de agosto de 2009

Que seja eterno enquanto dure

A pedidos de agora e de antes eu decidi escrever sobre o velho e moderno matrimonio. É, o casamento e de preferência com festa. Seja na igreja, ou na capela, de dia ou de noite, no campo ou no jóquei club a finalidade é uma só: satisfazer a vontade da mulher de se vestir e ter o dia de noiva, mostrar o contrato assinado e a nova posse adquirida para a sociedade e, naturalmente, com tudo isso, gastar dinheiro. O casamento, como tantas outras festas, é feito para os outros.

Diz-me, de coração, você caro leitor casado que fez festa de casamento, o quanto se divertiu e aproveitou ? Isso proporcional ao valor gasto. Está certo, isso parece meio mesquinho. Talvez seja. Ou coisa de mulher desiludida, o que não é, não. Mas explico.

Casamento, é uma ocasião feliz, por menos ou mais amor que possa haver entre os noivos a intenção é boa. Reúne a família e você conhece primos que não sabia que tinha, revê amigos e as desesperadas fazem piadas de sua própria solteirice e morrem de inveja de ainda não ter um cara possível para arrastar para o altar.

Em minhas poucas duas décadas de vida até hoje só vi mulher desesperada pra casar. Nunca vi um homem realmente animado com o matrimonio. Tem noivo que até acha legal, mas no fundo, já que é pra viver junto, preferia começar a morar junto e pronto. Sem precisar de arroz de festa e buffet para 500 convidados. Mas a vontade é da noiva, e no final, com charme, autoridade ou renda fixa mais alta, a mulher é que manda, isso quando o cara não foge da luta do matrimonio ao ter o seu amor pedindo/ exigindo o casamento.

Quando era uma aprendiz de mulherzinha, menor do que sou hoje, isso lá pelos 16 anos, uma professora me dizia.

- Meu casamento, como todos os outros, é um contrato.

Aquilo me intrigou de uma maneira que respondi com toda a sinceridade,

- Já que é só um contrato, por que não separa ?
- No dia que eu me casei eu assinei um contrato, com clausulas, como qualquer outro contrato. No entanto, isso não significa que eu seja infeliz.

Eu achava aquilo muito contraditório, era a frieza de um acordo X a paixão e o amor, ou como for o sentimento que faz duas pessoas se unirem no ‘para sempre’.
Mas depois, ponderando, raciocinado e comparando as relações humanas, pensei: o que não é o amor e a paixão, ou qualquer sentimento que valha, senão um acordo. Sempre em toda relação existe um acordo, nada que precise de um papel e uma caneta para comprovar. Bastam olhos, bocas, palavras e confiança pra criar as cláusulas de um contrato que é feito naturalmente.

Padre, igreja, juramento e festa é o costume que a sociedade religiosa impôs e perpetuou nas gerações, principalmente no gênero feminino. Mas isso tudo, hoje em dia, com os casamentos modernos, o matrimonio de padre-igreja-juramamento-festa está mais pra fetiche de posse, do que pra tradição eternizada.

Mas isso não é uma total crítica aos casamentos e casados, porque eu como uma boa mulherzinha admito que desejo casar com direito a tudo e mais um pouco. Muito pela festa, é claro. Mas na vontade do matrimonio não sei se quero ter só um marido, por um motivo simples: acho que o pra sempre é tempo demais. Prefiro acreditar no Vinicius de Moraes, em Soneto de Separação ao eternizar escrevendo “posto que é chama, que seja eterno enquanto dure”.

E que assim seja, eterno, enquanto dure.


Eis aqui um vídeo que já rodou a internet de um casamento bem diferente e dançante, eu diria.