D'propósito

23 de outubro de 2009

Jazz nos fundos e a verdade na frente


O baixo marcado, a percussão forte, o trompete solado e a improvisação acontecendo. A música jazzística é contagiante, tem swing e, para mim, combina com noites quentes, sorrisos largos, vinho, cerveja, boas companhias, histórias trocadas e viver ao acaso, como o improviso natural da música centenária.

Nesse ritmo contagiante que dividi histórias com duas queridas que trabalham comigo. E como normalmente acontece numa roda de mulheres, o assunto há de serem homens ou relacionamentos. Isso no alto da noite depois de algumas bebidas. Entre uma brincadeira sobre a falta de homens, reproduzi um e-mail que recebi dias atrás ao definir que os cabras machos são iguais a orelhão público: 70% estão quebrados e os outros 30 estão sendo usados. Logo só resta a ligação a cobrar e as histórias em comum.

E numa quinta-feira depois de uma longa jornada de trabalho, saindo da TV quase meia-noite, fui com parte da equipe do Metrópolis ao Jazz nos fundos. Um lugar super bacana que, claro, toca jazz, tem pessoas descoladas e bonitas, e paras os paulistanos da gema fica na João Moura, em Pinheiros.


E apesar do Jazz ao fundo e nos fundos, descobrimos entre uma conversa e outra que somos mulheres Bossa Nova. Isso porque na época as mulheres inquietas e com vontade de ganhar espaço nas rodas sociais, preocupavam-se em serem antenadas, descoladas e inteligentes para saber levar qualquer tipo de conversa em meio aos rapazes. Pouco se pensava em estética e corpo. A cantora Wanda Sá no um documentário “7 x Bossa Nova”, disse que não se recorda de nenhuma mulher preocupada com malhação ou com a exigência de exercícios para a beleza. Essa busca pelo corpo escultural está mais presente agora. E eu, se tivesse que definir um estilo musical para as mulheres atuais ficaria em dúvida. No entanto, descobri e defini que Vanessa, Adriana e eu somos mulheres bossa nova.

Mas há mais.

Eu sempre fui do samba e da bossa, me assumia assim. Aí, depois de alguns romances e do Metrópolis, inclusive, virei do samba, da bossa, do pop, do rock, do jazz e até do rap. Virei a miscelânea de ritmos e de histórias.

Já disse aqui no D’propósito a minha afeição por colecionar histórias e pra isso é preciso viver, ouvir e sacar que quando você não protagoniza um causo você escuta e aprecia como quem vive. E às vezes, na mesma fábula, você não é o único ouvinte ou protagonista, assim como no metrô em horário de pico, que ultrapassa a teoria de que dois corpos não podem dividir o mesmo espaço. E duas mulheres podem se relacionar com um homem sem saber.

Confesso que durante um longo tempo, e meus amigos e leitores mais próximos sabem, que fui apaixonada por um rapaz esteticamente fora do padrão. Tudo bem, porque para nós mulheres (bossa nova) homem nunca precisou ser bonito. Basta ter um papo bom, carisma, inteligente e pra mim, ser músico sempre foi um ponto a mais. A questão é que entre uma fofoca e outra com a Vanessa, ela admite vergonhosamente que ficou com o cara que eu era apaixonadinha. Mas quando isso aconteceu, nós nem nos conhecíamos e sem querer trocando histórias descobrimos que falávamos da mesma pessoa. Caímos na gargalhada e achamos ridículo, claro. O rapaz, que eu preservo o nome, levou a Vanessa no mesmo restaurante que tinha me levado e de quebra disse a mesma coisa. Até o atendimento do garçom com uma piadinha foi igual. Desacreditando de toda a história e com muitas gargalhadas, os meninos do Metrópolis perguntaram o que acontecia com a gente. Contamos o caso e o Marquinhos disse:

- Eu não sei se soco um cara desse ou dou os parabéns. Conseguiu ficar com vocês duas.

Apesar de tudo, eu o parabenizo, porque a gente tem que admitir que o cara é bom na enganação e assim como Vanessa e eu, outras tantas com certeza já caíram. Bem, quando a gente cai na pegadinha, o melhor é rir com a piada. E piada boa é piada curta. E nesse quesito de piada curta, ele é bom (#seéquevocêsmeentendem)

Com toda a música jazzística ao fundo a verdade sobre o cara, não foi a única na noite. Mas também que o rapaz que eu estava até curtindo, tem outra e não é a Vanessa. Tudo bem, eu volto para as pistas e continuo me divertindo, porque o que é a vida senão isso: diversão.

E é em meio ao divertimento que eu vou vivendo no improviso do acaso.

Sobe o som de Miles Davis...




19 de outubro de 2009

Debaixo dos cobertores

É macio e eterno o sono bem dormido de uma noite chuvosa e uma manhã nublada. Esses dias em que o sol se esconde são, normalmente, os mais difíceis para lutar contra a preguiça e deixar o quente do cobertor.

É assim que me sinto boa parte dos dias. Gosto de dormir tanto quanto gosto de viver e vivo sonhando e é por isso que vivo dormindo. Mas minha maior preguiça costuma ser em outubro, principalmente no dia 19. Eu não descobri isso hoje nem há dez anos. Tem pouco tempo. Precisamente três anos.

Como já disse aqui todo dia 19, desde 1988 e provavelmente, segundo a biografia de Vinicius de Moraes, desde 1913 chove. Sempre chove. Acostumei com a chuva e não desejo que seja diferente adiante.

Mas desde que completei 18 anos perdi a vontade de fazer aniversário. Talvez eu tenha criado essa marra com minha primeira paixão, que odiava comemorar sua data. Depois com meu primeiro namorado, que também não era afetuoso ao seu dia de nascimento. Não gostava que as pessoas lhe dessem parabéns. Pra ele, uma pessoa só pode ser parabenizada por algum feito e fazer aniversário qualquer um é capaz.

O pensamento talvez seja pessimista, mas o meu medo de envelhecer que bateu a partir dos 18, somado aos dois homens bem importantes que tive eu parei de comemorar aniversário. Isso tudo me dá preguiça. Festas nem pensar.

Fazer aniversário, pra mim, é a delícia de poder passar o dia na cama comendo tudo de gostoso que engorda, vendo filme na TV, e depois de assistir dois ou três longas ver Anos Incríveis. No intervalo de um filme e outro e uma série, receber uma ligação. Apesar de não gostar de festejar a data, eu gosto que as pessoas lembrem. Me faz sentir o mínimo querida e importante a elas.

Mas como nem tudo são flores na vida adulta, eu não posso passar o dia na cama. Então com aquela preguiça de inverno (apesar da sempre primavera) eu me levanto para mais um ano completo.

Talvez envelhecer seja isso, é a preguiça de sair da cama e a vontade de fazer o que deseja contra realizar o que te obrigam. Envelhecer requer regras demais, rugas a mais peso sem mais e histórias mais e mais e mais.

Eu gostava de ser criança, tenho medo de envelhecer, mas adoro viver. É por isso que mesmo com preguiça, eu levando da minha cama terna, largo meu edredom macio para viver e realizar o que eu sonhei nas noites anteriores, e assim, colecionar histórias.

14 de outubro de 2009

Uma certa semelhança

Bem, eu podia escrever qualquer coisa perto do inteligente, filosófico ou sociológico. Mas a falta de tempo para isso me faz trocar a escrita pela música bem mais inteligente e legal do que qualquer coisa que fizesse agora.

E pra explicar o motivo do vídeo: entre todos os DVD’s, livros e CD’s que chegam no Metrópolis e teoricamente não serão aproveitados, nós chamamos de lixo. E fora o que o @FELIPEAAUKAY (fominha) pega e não divide, restou o primeiro e novíssimo DVD “Pra se ter alegria”, da Roberta Sá. Como fã que sou só fiz a minha parte de levar pra casa.


O DVD é ótimo, mas mais do que o show que já conhecia de uma ponta a outra, gostei mesmo foram dos extras que têm participação de Chico Buarque, Ney Matogrosso, Trio Madeira Brasil, Antônio Zambujo e Yamandú Costa.
Na música Mambembe com o Chico (que é o vídeo abaixo) falei pra minha mãe:

- Você não acha que nesse vídeo Roberta e eu somos parecidas ?

E com a verdade dela respondeu.

- Não.

Mas não aceitei o não como resposta, porque eu realmente acreditei que estávamos parecidas. Mostrei para minha avó e minhas tias, e todas concordaram comigo. Não sei se falavam a verdade ou concordaram só pra me fazer mais alegre, mas no fundo eu acho que parece.
O que difere é que ela tem um sorriso maior que o meu e o nariz mais fino. Bem, e claro, a voz. Talvez não seja bem assim, mas gosto de acreditar que no geral e neste vídeo, em especial, há uma semelhança; e quando crescer quero ser que nem ela
(ainda no momento dia-das-crianças).




2 de outubro de 2009

A tentativa de ajuda


- Camila, me ajuda. Como eu faço pra esquecer aquela coisa gorda ?



O pedido de ajuda até poderia ser meu, falando de frente pro espelho. Mas não. E é exatamente por parecer meu, e teoricamente entender do gosto acima do peso, que decidi ajudar um fiel e querido leitor do D’propósito que me escreveu com a pergunta acima.




E com a minha experiência regular (e quase única), disse que os gordinhos têm em si um charme que nenhum magro tem. O gordo não precisa do corpo esbelto pra conquistar ou se inserir em um grupo qualquer. E diferente dos que geneticamente não vieram com a estética favorável, como os narigudos, os orelhudos, os esquisitos, os baixos e até mesmo os magrelos – cada ser com seu complexo – o gordo é o único com humor suficiente de zombar de si mesmo, fazer o outro rir e ser feliz. Ainda que queira perder peso. Mas acho uma bobagem. Perder peso, nesse caso, pra mim, também é perder carisma, porque a beleza do gordo está no gesto. O gordo conquista, não ganha. O gordo também abraça mais forte e dá o real sentido do abraço, fazendo o carinho mais do que um movimento de afeição, é um encontro. O gordo ri mais, fala mais alto e é extremo, ou não é nada. Eu nunca vi um gordo pela metade. Ou é 8 ou é 80. E eu sempre preferi os 80. Os que são assumidamente gordos e grandes em sentimentos, em dedicação, em sinceridade, em conduzir a vida como matam a fome.

Talvez os magros também possam ter tudo isso, igual aos gordos, que o amigo leitor e eu gostamos. Mas essa não é a resposta.
No humor pesado eu te responderia pra gostar de um magro, é bem mais fácil segundo as teorias Maias. Mas é indiferente o tamanho e o peso pra um sentimento, então, a única maneira é criar uma lacuna entre você e ela, deixando que o tempo cuide disso e a sua balança traga o resultado desse regime, de maneira que o peso de gostar de alguém não incomode mais.
A distância é o esquecimento

E foi assim que eu consegui.