D'propósito

28 de fevereiro de 2009

Do passado

Foto: rubensabrao


Não me arrependo de nada. Se pudesse viveria tudo de novo, mas não quero. Viver é coisa de uma vez só.

27 de fevereiro de 2009

A fila

quando a fila anda
a paisagem muda de sentindo
o olhar muda o destino.
não importa se a fila é de carro, gente, amor, ou de livros.
o importante é acompanhar a fila, seguir em frente
sentir o gosto (do) diferente.



Bom dia,
o carnaval acabou, o ano , de fato, começou e a fila já andou. Estou correndo pra não me perder e seguir em frente.

23 de fevereiro de 2009

Mais um acaso

Um amigo e leitor mandou um e-mail dizendo que lembrou de mim ao ler isso:


"....Talvez desilusão seja o medo de não pertencer mais a um sistema. ... O que eu era antes, não me era bom. Mas era desse não-bom que eu havia criado um bem futuro... Terei que correr o sagrado risco do acaso. E substituirei o destino pela probabilidade.Mas enquanto eu estava presa, estava contente? Ou havia, e havia, aquela coisa sonsa e inquieta em minha feliz rotina de prisioneira?"

[A paixão segundo G.H. - Clarice Lispector]

Acho que ele acertou !

20 de fevereiro de 2009

O carinha faz anos, a sorte é só dele

Ele tem um sorriso largo e inocente. Olhos pequenos, cansados e cheios de amores, que nem sempre são flores. Já regou rosas e feriu-se com o espinho, não o da Rosa, mas de quem não tem a genética da flor e plantou no seu jardim do mesmo jeito. Do tipo bom moço, todo mundo gosta e se diverte com ele. O cara é assim, quisto. Muito bem quisto por onde passa. Quem o ama até hoje não sabe porquê o ama. Se são pelas falhas, travessuras ou palhaçadas. Não fez escola de circo, mas tem talento pro picadeiro.

Na sua gargalhada eu descobri porque o amo. Porque foi ele quem me ensinou a sorrir, a ler o jornal, a andar de bicicleta, a nadar, a gostar de samba, Beatles e Tim Maia. Tem alma de sábio, apaziguador. Gosta do trabalho e da boêmia – quase uma contradição. Não é poeta, mas já romantizou algumas cartas de amor e colocou as cadeiras de várias pessoas para mexer. O moço que sempre faz graça e é uma graça, já dominou as pistas dos bailes do seu tempo. Era DJ, tinha fama de galinha, do tipo sedutor, animava as festas e brigava com as rosas - sim, aquelas que falam e se opõem às rosas de Cartola.

Com amores e desamores, o paulistano da gema, nasceu, cresceu e viveu no bairro do Rio Pequeno. E é pequeno, ele, não o bairro. Do tipo baixinho de barriga empinada e que ao final das refeições, sempre faz a mesma cara, apertando os olhinhos e dando aquela piscadinha diz, “acho que comi demais”.

Come. E gasta também. Um consumidor nato, compra sem freios. E sempre quer me pôr freios, tem medo da minha velocidade e me pede pra parar, dar um beijo e um abraço. Com ele eu brigo, brinco, faço manha e chamo por minha mãe. Conservo as suas palavras e afeto na influência que ele é pra mim. Desde comer muito, comprar muito, ser boêmia, apaixonada por música, sambar no salão, comprar LP's e CD's, gostar de carros, vídeo-games, de arte e principalmente, acima de tudo sorrir. Sempre. O bom humor é algo que está estampado no seu corpo e alma de aprendiz, como deve ser. Erra todo dia, às vezes persiste no erro, mas aprende e me ensina que amor está além das palavras.

Tudo que em minha vida é presente, tem a sua presença, mesmo que não seja física. Porque temos a química. Uma química que está além da relação pai e filha. E as palavras não são um presente, é uma lembrança da história do homem que completou quarenta e oito anos e chamo com orgulho de Carinha e PAI. E, se bem pensado, a sorte também é minha.

....

Diferente de mãe que é tudo igual e só muda de endereço, pai é tudo diferente, ainda que resida na mesma morada. Sem as declarações cotidianas de que mãe é uma só, pai também é um só, é único. Desde quando o chama de pai.

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-Paii....
-Quê?
-Vamos jogar bola?
-Camila, você é menina.
-Eu sei, vamos jogar?
-Então, pra aquecer vamos jogar uma partida de vídeo-game?
-Eita pai, depois reclama que está gordinho. Mas eu fico com o controle 1.

14 de fevereiro de 2009

Vestida de vermelho



Dia desses, uma mulher de olhar sereno, como quem conhece a vida, seus caminhos e desvios, olhou nos meus olhos, pegou na minha mão e disse, “o homem que você busca não existe, é um ideal, é o príncipe que te encanta.”
Imediatamente eu sorri, com sorriso e olhar de gratidão e, naturalmente, não concordei. Achei as palavras bonitas, mas mais do que um príncipe encantado, eu procuro um homem que me encante, um lugar que me cative, uma música que me seduza, uma paixão que me eleve. Eu não busco um homem, procuro pessoas dentro de um homem. E se não acho o homem, encontro pessoas. Procuro motivos pra sentir e razão pra viver da intensidade que a paixão já me permitiu degustar e viciar. E pra viver apaixonada eu não preciso de um homem, preciso de vários. E isso não é orgia.

Assim como Vinicius de Moraes, ‘meu tempo é quando’ e ando onde há espaço, me sento no espaço vazio da mesa. Não disputo lugares ocupados, nem tratamento vip. Eu só preciso de um espaço com vista, e um homem que me vista, para a vida.

Não preciso de um modelo ideal de homem, eu preciso de um homem com ideal. Eu não descanso meu corpo em qualquer corpo. Quero um homem inteiro e pela metade. Metade que me faça todo dia o mistério que eu tenha de desvendar na inteligência, olhar e sorriso enigmático do meu homem. E se esse príncipe que eu encanto não existe, eu mudo o conto de fadas. Deixo o cavalo branco por um boi bravo, que corre pra cima da cor encarnada, avança e rasga com a força do desejo da mulher vestida de vermelho.

12 de fevereiro de 2009

Música Safada para Corações Românticos

Deu no Metrópolis de ontem, e hoje eu dou aqui !
Depois de uma das minhas editoras perguntar ao meu editor-chefe quem era Silvia Machete, e o chefe responder (brincando), "é amiga da Camila", acho que Silvia merece um espaço no D'propósito e o VT também, editado pelo meu menino Rick.

Naturalmente, Silvia Machete não é minha amiga e, como eu, "nenhuma santa". A resposta dele foi uma performace, como a da artista.


9 de fevereiro de 2009

Subterfúgio .

Estela está a mais de um mês fugindo de um encontro que uma hora será inevitável. Fugir pode ser uma solução, o difícil é fingir na hora do encontro. Ainda que com tantos desencontros, uma hora, o encontro surge. Acontece. E nessa hora é que Estela vê onde a coragem está guardada. Nos olhos, nas mãos, na boca, no pulmão. Ou em parte alguma. Aí então, Estela vai perceber se fugir valeu a pena e notar se ficar é um risco. Um risco qualquer pro coração. Uma ousadia qualquer do passado que se escreve no tempo, agora.

1 de fevereiro de 2009

Você e só voce

Uma pequena homenagem à garota que todo dia me surpreende - pra bom e pra ruim. A menina que passa de colega, amiga, melhor amiga e inimiga em segundos. Por que nossa relação é um quebra cabeça que montamos e desmontamos todos os dias.
As palavras abaixo são de agosto de 2007, mas como história de vida nunca é velha, está aqui tudo de novo e pra você.
Feliz aniversário, Alline. Amanheça brilhando mais forte, sempre.




Você sempre me pediu para escrever algo que fale de você ou sobre a nossa história e, eu incansavelmente disse que essas coisas não se pedem, tampouco se implora ou deseja uma dedicação de um dia comum ou fracassado, como um blog de pouco acesso. E sabe o que mais? Não sei que história você diz para eu contar. Não sei se são interessantes casos e travessuras da infância, aborrecência e agora da vida adulta.

Pensando bem, não sei como essa relação que existe entre nós sobreviveu a todos esses anos. Houve momentos que quase desisti de você, momentos dos quais a sua presença era propositalmente para me aborrecer e contrariar as idéias, que tinha por mim, brilhantes. Natural de uma menina egocêntrica, como eu, nada de novo. Mas o que sempre era novo, e se hoje acontecesse de novo ainda não seria velho, eram os momentos em que meu abdômen doía por suas palhaçadas constantes e maldades alheias.

Você sabe muito bem que sempre tive um êxtase em nossas maldades, talvez mais em suas crueldades, porque elas eram só suas, feitas por você. Não adianta negar ou fazer-se de vítima. Eu sempre levei a culpa, mas era você e só você que apagava a lousa arrastando o tronco da Jéssica por toda a superfície branca, cheia de riscos e rabiscos deixados por nossos mestres e, depois da garota já suja de canetão, não contente, você a jogava no lixo.

Certo. Não vou negar. Isso me divertia e fazia um bem pro meu coração, ele batia alegre em ritmo de samba, parecido com aquele que levou a vitória no carnaval de 2002 do Rio de Janeiro. Como sempre minha estação primeira de Mangueira. E, eu como admiradora do carnaval e apaixonada pelo samba, levei o hit à vocês com o clássico: “eu vim do nordeste sou cabra da peste. Sou o quê? Sou mangueira...”

Desde então você, Jéssica e companhia viraram Mangueira, muito provavelmente não só pela música, ou por minha influência, mas talvez pelo momento que aquele carnaval marcou nossas aulas de química. No ritmo da minha voz e do meu batuque, você e Jéssica sambavam e logo depois a classe toda já estava de pé, vibrando e dançando junto. O que mais me impressiona hoje, era a calma da professora em ver nosso samba abrindo aula e fechando aula.

Sem dar trégua no samba com a felicidade fazendo a harmonia, é que de repente você, somente você, faz a Jéssica arremessar o próprio tênis pela janela e acidentalmente cair na cabeça de uma idosa professora. E coitada da Jéssica, foi lá no lixo, buscar seu calçado, que muito nervosa a professora atirou o sapato ao cesto de lixo.

Depois disso, lixo e Jéssica viraram sinônimos, porque a pobre vivia dentro dele ou com seus pertences pertencentes a ele. Mas depois de rir muito da cara da Jéssica, cansei. Então, Jéssica e eu resolvemos fazer você ser a piada, fomos más, mas isso foi necessário para sua educação. Precisávamos ter juntado nossas forças pra bater em você, afinal, uma era pouco e você sempre foi muito. Muito maior, muito mais lesada, muito mais gorda (mentira, a Jéssica era mais), muito mais apaixonada pelo Rui, muito mais fiel aos seus princípios e muito pior que eu no futebol.

Isso você era o fracasso, não bastava ser muito pior. Por que você e só você, conseguiu cair feito um pingüim quando confundiu Daniela com a bola. Você chutou a menina, a jogou para longe. Assim como fez nos outros cinco anos de Chicomfu futebol clube (Chicomfu, chicomfu...Uh, uh!). Você era nossa zaga, não deixava passar nada, arremessava tudo para longe. Literalmente. Assim como fez no campeonato de basquete, arremessou todas as meninas da quadra, você era grande, praticamente uma cavala, fantástica. Graças a sua proteção, eu pude deslizar com a bola por toda a quadra e nós fomos campeãs.

E somos até hoje, porque somente nós conseguimos reunir um bando de professores para o almoço, o primeiro, o melhor e o inesquecível. Foi fantástico, conseguimos nota e ainda nos livramos da quase DP de química, tenho certeza que foi a comida da sua mãe, o nosso suco com uma mosca morta no seu copo e os tomates mal lavados que nos fizeram ir para o segundo ano do colégio.

Depois disso você decidiu que ia ser adulta, trabalhar e ir para o noturno. Então, nossas emoções escolares viraram caseiras, como o dia que jogávamos bola no prédio e você delicada abocanhou o Alexandre. Deixou seu dente na camisa dele. Você chorou, mas eu ri, ri muito, porque foi inacreditável e o seu desespero hilário. Desculpe, eu precisava confessar. Mas eu não me esqueci da final da copa Guaraná, quando lasquei meu dente da frente e, a primeira imagem que me veio a cabeça foi você. O que tinha feito contigo quando perdeu seu dente na camisa alheia. Não diferente você fez o mesmo, riu da minha cara enquanto eu chorava por uma lasca perdida.

Em resumo eu sei que nós perdemos muitas aulas, mas aprendemos muito. Rimos uma das outras, fizemos maldades uma com as outras, fizemos maldades com os outros, nos comportávamos como moleques, porque éramos meninas vestidas de travessuras com o cheiro de infância fixado no corpo. Vivemos mil, fomos todas e éramos três: ACJ. O teatro nos confirmava isso e agradava quem nos assistia, dentro e fora dos palcos. Hoje que mais velha me vejo, não teria feito nada diferente, nem mesmo as maiores ignorâncias cometidas pelo egoísmo e o deboche que muitas vezes esteve presente. Porque tudo foi feito como um documentário sem roteiro, que gravamos nossa vida, improvisamos nossa trilha e marcamos uma época. Porque você e só você, é capaz de entender tudo o que eu tenho a dizer.