D'propósito

11 de fevereiro de 2008

Acaso - parte IV


Pareciam um casal, estavam juntos, mas não eram um casal. Não como dois namorados ou apaixonados. A paixão vinha de alguma parte do corpo dela, e um interesse sem porquês da parte dele. O telefonema dele que provocou o encontro, foi a surpresa da noite que tinha outra promessa. Na pressa dos passos com a mistura do atraso e da curiosidade e vontade de vê-lo novamente, ela se ajeitava e caminhava a ele, que estava a beira da escada esperando-a com o sorriso singular e o abraço que deu o encontro.

Apesar de não serem um casal apaixonado, o programa era típico, o cinema. Como já havia acontecido – por acaso – na vez passada. Agora foi proposital. Se antes, ou no primeiro (re)encontro eles mal assistiram o filme, dessa vez foi diferente. Até os trailers viram. Eles se sentiam, e ela respirava o cheiro que não mudara desde a primeira vez que o conheceu. O longa-metragem era feito de silêncios longos, assim como a relação entre eles.

Apesar da atenção pelo filme; como é comum nos casais, eles também deram o tempo para as carícias. Com os rostos quase colados, os braços entre cruzados e a mão dela sobre a mão dele fazendo afagos, ele a observou. E reparou muito em suas mãos.Como quem continua atenta no filme, ela finge não ver. Mas ele persisti ao olhar e vê no seu dedo anelar adornado por um anel que mais parecia uma aliança de compromisso.

Depois de muito observar ele chega ao pé do ouvido dela, ela pressentia suas palavras já saindo da boca, mas ele desistiu. Não falou. Calou. E ali com a boca perto de seu ouvido, ele respirou e deu um beijo quente e indefinido. Ele queria dizer algo sobre relacionamento ou namoro, mas não disse. Faltou a coragem ou não era o momento. Ele provavelmente iria falar a respeito até o final da noite.

O filme terminou e os dois se olhavam, fixamente um ao sorriso do outro. E o mesmo silêncio que se deu ao filme eles terminaram aquela noite. Apenas com o ruído do último beijo e da sensação das palavras que ele iria dizer até o fim da noite e não disse. Não disse, porque foi embora atendendo um telefonema que por acaso ou não, prorrogou o caso que mais do que feito de desejos é também feito de silêncios.

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